NÃO ACREDITO EM DIABOS, MAS QUE EXISTE, EXISTEM

A frase é inspirada em um dito popular em castelhano — «No creo en brujas, pero que las hay, las hay», Não acredito em bruxas, mas que ela existe, existem.

Eu conheci o inferno pessoalmente. Estive lá.

Antes devo informar que o capeta prepara algumas armadilhas. No meu caso teve início em um documento público falsificado. Melhor esclarecendo, o meu funcionário falsificou-o, e quando eu descobri, fiz a denúncia contra ele, à justiça.

A partir daí meu calvário e o caminho para conhecer o inferno, foi pavimentado pelo diabo. O delegado entendeu que eu tive participação e me denunciou à justiça.

Quer mais intervenções do diabo: apesar de ser advogado, me recusei a fazer a minha defesa em causa própria, contratei uma advogada que também abduzida não fez a defesa, apesar de ter cobrado honorários e ainda recusou a devolver.

Um defensor público assumiu a minha defesa.

Feitas estas considerações, vou contar como o conheci.

Foi na sala de audiência desse julgamento, ou melhor na sala do inferno. Tinha capeta para todo lado, porque o bicho é mutável, uma hora estava em um, outra hora em outros, e assim foi.

Pessoas que trabalharam comigo durante anos e décadas, que entraram na empresa porque dei mais valor a oportunidade do que as suas experiências, que foram ajudadas e orientadas para vencerem, nesta ocasião me acusavam como derrotados.

Que frequentaram minha casa, que junto com minha esposa fizemos e comprávamos bolo para comemorar seus aniversários como se fossem na nossa família.

Enfim, tudo isso para ensinar valores. Em recompensa fui enganado: diziam falsamente que eu era o espelho para suas vidas.

Acho que passaram a vida tentando ser eu, e como ninguém consegue ser o outro, não conseguiram e frustrado foram presas fáceis para ser cooptados pelo capeta.

Nessa audiência, ou melhor, na sala do inferno, todos unidos me acusavam. Não eram acusações, mas fofocas. Pensadores dizem que as pessoas se unem, ou por medo ou por interesse, neste caso foi por interesse.

O jovem promotor cooptado pelas forças estranhas me acusando e escarafunchando, tentando induzir a auto incriminar-me.

E o juiz, bem este construiu sua acusação, mas………. Deixe para lá, porque o tribunal revisor dará a resposta. Mas o que me lembro que este senhor era chamado de Excelência, enquanto o Criador é chamado de Senhor apenas.

Adivinhe se com este quadro, se não fui condenado?

O juiz impiedoso, condenou-me escrevendo 14 páginas: relatando o que delegado achou que eu fiz, o que o promotor denunciou, pelo que o meu ex-funcionário fez de errado, e pelo que os meus delatores me acusaram no meio do processo.

Aliás, no processo entraram acusações que não estava na denúncia, portanto fato novo no meu do processo é ilegal, qualquer profissional do direito ou da justiça, deve saber que não se pode condenar além da denúncia oferecida, não leram ao menos o Código de Processo Penal aplicado no caso, que mandando a modéstia às favas ensino:

…, o juiz não pode condenar além do pedido formulado pelo órgão da acusação (ultra petita), sob pena de violação ao princípio da correlação entre a acusação, a defesa e a sentença. Aliás, se não pode o menos (condenar além do pedido), sem observância das regras da emendatio e da mutatio libelli (CPP, ART. 383 e 384), não há de poder o mais: condenar sem pedido de condenação.

Não há mentira pior, do que uma verdade mal compreendida por aqueles que não sabem ouvir ou ouvem e não sabem compreender.

Por isso para dar um ar de ficção numa verdade que senti na pele, digo que foi coisa do diabo, afinal o capeta não se contenta com pouco, ele quer sempre mais.

Às favas o meu passado e ou meu futuro.

Se o capeta não existe e não há inferno aqui na terra, fui vítima de loucuras, que se potencializou quando as maldades se unem. Não se saúda as maldades das pessoas, mas vai que o inferno exista em algum lugar… existindo eles irão para lá.

Mas o meu calvário ainda tinha um outro trecho a percorrer, que foi o recurso a instância superior. Enquanto aguardava o julgamento o capeta colocou uma pedra pesada nos meus ombros, e assim carreguei até o julgamento final.

Para variar meu advogado recusou-se a cumprir o último ato antes do julgamento de um recurso, que é a sustentação oral no Tribunal, e que orientado pelo capeta, tentou-me me convencer a não utilizar este último recurso de defesa.

Aí, já com o saco cheio desse miserável capeta, resolvi vencê-lo, e fiz do meu jeito.

Primeiro procurei um advogado com atuações religiosas para fazer a sustentação oral no Tribunal, afinal o Criador teria que ser convocado. Falei com o Homem lá de cima que precisava de luz e forças extras. Pedi forças, e sob sua inspiração calculamos todos os detalhes, e o que poderia ser ressaltado durante os 15 minutos concedidos para esta finalidade no Tribunal.

Para não ter as surpresas e armadilhas do capeta, e para não chamar atenção do capeta, fui para o Tribunal, certo que minha esposa cuidaria das orações naquele dia. Não é que o capeta atuou nela e fez ela ir para o hospital, cometida de ameaça de desmaio.

Um anjo me acompanhou todo instante. Éramos três, eu o advogado que amarelou e recusou a defesa oral e o que iria fazer a defesa oral, mas me sentia que éramos quatro.

Chegamos dispostos a vencer o capeta. Logo na chegada senti as luzes do céu e a presença do Senhor.

O secretário do Tribunal que nos atendeu era educado e gentil. Nada a ver com a audiência que o capeta pintou e bordou.

E aí a surpresa:

Antes da sessão começar o presidente, chamou o meu advogado orador e comunicou a minha absolvição, dispensando-o da defesa oral. Nesse momento vi a atuação de Deus, e o capeta na lona. Joguei a pedra que estava em meu ombro e esmaguei aquela criatura miserável do mal.

Já com a notícia favorável e comemorando, senti que os juízes desembargadores, diferente da sessão de primeira instância, pareciam semideuses, educados e atenciosos. O desembargador presidente explicou como seria a sessão e comunicou que a minha sentença tinha preferência (é que como meu advogado tinha desistido da sustentação oral, o meu processo tomou a dianteira em relação aos demais).

E assim leu a minha absolvição – diferente da minha condenação que tinha 14 páginas, esta tinha apenas uma página, pois a verdade é objetiva, porém entendi como uma graça divina.

Enfim o diabo foi vencido. Agora mais precavido e mais vigilante nunca mais quero vê-lo. É horripilante.

Termino dizendo que ao falar de mim tento falar de você, que pode ser a próxima vítima, mas afirmo que com estes fatos, aprendi coisas sobre mim que não sabia.

Aprendi que lutar contra a injustiça custa-me mais do que sofrê-la. Que a dor física é menor do que a dor da injustiça. Que o injustiçado não se adapta a realidade da injustiça. Que uma injustiça não for resolvida é o retrato acabado de uma tristeza, mas é melhor sofrê-la do que acometê-la, porque estes jamais serão felizes porque não suportam a si mesmo.

Aprendi que a alegria do que acabou é uma tristeza do que aconteceu, que o ser humano é portador de um desajuste que faz praticar a injustiça, por isso tenho sempre que examinar a mim mesmo.
Finalizo com a impressão que alguma coisa saiu do lugar em mim, e para sempre ficará alterado.

João de Araújo